terça-feira, 11 de novembro de 2014

Direita Pão-com-ovo


Não sei por que, mas fiquei atônito com a manifestação que ocorreu na avenida Paulista no início de novembro. Eu considerava inimaginável alguém vir a público defender a volta do militarismo no país. Particularmente tenho várias objeções ao governo do PT, mas entre uma democracia e uma ditadura militar, fico com a primeira.

Sou da opinião de que este governo está trabalhando em um projeto de poder e que durante a campanha incutiu o medo em grande parte da população, além da falsidade intelectual de seus discursos, quando suas ações mostram exatamente o oposto do que pregam.

Neste protesto, chama a atenção a divergência dos discursos: enquanto um diz que não havia golpistas ali, outro defendia abertamente a volta do militarismo! Ouviu-se até um parlamentar dizer que seu pai poderia ter fuzilado a atual presidente! E não só isso: esse mesmo parlamentar diz que votaria no chefe de uma facção criminosa, mas não na candidata à reeleição.

Essa polarização, esse sentimento de nós-contra-eles, do bem-contra-o-mal, em parte incentivado pelo próprio PT durante a campanha, não leva ninguém a lugar nenhum. No meu ver, essa polarização burra está sendo um retrocesso para os avanços obtidos desde 1994. Querer polarizar entre PT e PSDB ainda é se manter à esquerda, mas há quem discorde.

Concordo que existam diferenças fundamentais entre esquerda e direita, mas não acredito que somente um lado deseje o avanço do desenvolvimento e inclusão social. Apenas a maneira de buscar esses ideais é diferente. Enquanto uns defendem um Estado paternalista, outros crêem na iniciativa do indivíduo como gerador de crescimento.

No meu entendimento há um ponto de falha comum nas duas visões: o ser humano. São as atitudes mesquinhas, a soberba derivada do poder que criam dificuldades para os ideais tanto da esquerda quanto da direita. Isto posto, defendo a opinião de que é mais fácil se corromper enquanto parte de um Estado inchado, paternalista, onde há dificuldade de mensurar a eficiência de suas políticas e uso dos recursos recolhidos através de impostos.

No fim das contas, aqueles realmente contra os ideais de desenvolvimento e inclusão social, são os que se corrompem quando estão em posição de poder, bem como os corruptores que tentam levar vantagem, se aproveitando da fraqueza moral do ser humano.

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Politicamente chato


Parece cada vez mais difícil as pessoas assumirem uma opinião. Aparentemente a sociedade, conforme "evolui", vai se tornando cada vez mais melindrada sobre dizer o que realmente pensa.

Exemplo dessa condição podemos ver nas falas dos políticos quando questionados sobre temas polêmicos. Nas declarações dos candidatos à presidente da república de 2014, quando questionados sobre, por exemplo, casamento gay, todos pisavam em ovos! Talvez apenas um tenha deixado clara sua posição, provavelmente de maneira direta demais e, por isso, foi atacado nas redes sociais.

Ora, por que não posso dizer que uma pessoa que tem a pele escura é "preto" ou "negro"? Não estou ofendendo a pessoa por isso, é uma característica dela! Assim como não me ofendo quando alguém me chama de "branquelo", "branco azedo"...

As alternativas utilizadas para se referir a estas ditas minorias creio serem piores: afro-descendentes, casamento homoafetivo e por aí vai. Tentar usar estes termos, ou expressões unissex em discursos, ou na impossibilidade, usar os dois sexos - "brasileiros e brasileiras" - no meu entendimento, só reforçam a condição que se deseja mitigar ou evitar.

Talvez, alguma coisa que um dia foi, nunca deixará de ser, sendo assim nunca teremos uma sociedade realmente livre de sexismos e preconceitos. O concreto disso tudo é que na tentativa da sociedade tornar-se politicamente correta, estamos na verdade nos tornando politicamente chatos.

terça-feira, 21 de outubro de 2014

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Marvel x DC


Geeks gostam de comparar e competir seus gadgets favoritos: IOS x Android, Star Wars x Star Trek, Metallica x Megadeth, The Big Bang Theory x IT Crowd, Xbox x PS, Marvel x DC etc.

Ao sairmos do mundo Geek, temos varias outras separações: Corinthianos x Todo o mundo, católicos x protestantes, cristãos x judeus x muçulmanos, teístas x ateus, capitalistas x socialistas, homens x mulheres, heteros x homos, pro-life x pro-choice e por ai afora. Esse comportamento me parece ser algo inerente ao ser humano e não consigo entender o porquê.

Entendo que a divergência de preferências e opiniões deveria servir para elevar a qualidade do conhecimento de todos, através de debate e discussões que enriqueçam e ampliem. Ajudem todos a ver o mundo como algo amplo e com espaço para as diversas preferências e individualidades.

Mas o que vejo acontecer é o contrário. Alguém já disse que uma vez que o ser humano forme opinião sobre um assunto, não muda de opinião mesmo em face a novos dados. E o que acontece é o fechamento das discussões e cada um se fechando no seu mundinho, alheio e impermeável ao que vem de fora.

E a chamada cultura multimídia não ajuda em nada, em muitas vezes alimentando a cultura do nós-contra-os-outros.

Imagino que isso tenha, ainda que não intencionalmente, uma parcela de estratégia de controle. Os poderosos do mundo usando o velho dividir-e-conquistar para se manter numa posição de controle e influência.

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Sobre ser humano


O ser humano julga-se muito mais importante do que, muito provavelmente, realmente o seja. Uma pergunta me vem a mente sobre nossa condição: somos humanos ou estamos humanos?

O universo que conhecemos existe há uns 14 bilhões de anos, já o planeta que vivemos é bem mais novo; possui apenas 4,5 bilhões de anos. Se pararmos para refletir, esses números estão impressos nos livros de ciências há muito tempo. Estou certo que são os mesmo números no livro de ciências que você usou. Dificilmente estes números foram diferentes nos livros que seus pais utilizaram e vou além, duvido que estes valores eram diferentes nos livros de ciências dos seus avós. Se você já possui descendentes, é muito provável que nos livros deles os valores sejam os mesmos. Então, três ou quatro gerações viveram (ou estão vivendo) neste planeta e ele ainda possui a mesma idade! Qual a sua significância para o planeta, se você só vai ficar por aqui por mais ou menos uns 80 anos?

Mas o homo sapiens é uma espécie única. Será? Nosso universo talvez não seja único. Há mais de 170 bilhões de galáxias neste nosso universo. Uma galáxia, dependendo do seu tamanho, pode possuir mais de 200 bilhões de estrelas (nossa galáxia, a Via Láctea, possui mais de 300 bilhões). Mesmo que somente uma ínfima parte destas estrelas possuam planetas e, uma outra ínfima parte destes planetas possuam condições de sustentar a vida, são bem grandes as probabilidades de existir planetas com espécies similares à nossa, ou até mais evoluídas. Só porque não as encontramos não significa que elas não existam. Parafraseando Carl Sagan: "a ausência da evidência não significa evidência da ausência".

Mesmo diante de tamanha insignificância, ainda assim nós, homo sapiens, temos coragem de nos colocarmos como superiores em relação a outros de nossa mesma espécie, e por razões das mais estúpidas possíveis: cor da pele, religião, clube de futebol, conta bancária, cargo e por aí vai.

Não sei qual a sua religião, e sinceramente não me importo, mas me responda: onde você vai enfiar todo dinheiro que tem no banco quando seu tempo neste planeta acabar? Será que os vermes que se alimentarão da sua carne se importarão com a cor de seus olhos? Ou para qual clube de futebol você torce? As cinzas que restarão após seu corpo ser consumido pelas chamas da cremação terão mais valor devido sua posição na empresa?

Talvez haja mais sabedoria no bom livro do que queiramos admitir e, talvez, até as perguntas que acompanham a humanidade há séculos já estejam respondidas: "do pó vieste e ao pó retornarás".

Sendo um fato que nosso tempo neste planeta é finito, então talvez a diferença entre ser humano e estar humano seja o que fazemos de nossas vidas, como contribuímos para tornar este mundo um lugar melhor e como seremos lembrados pelas pessoas que cruzam nosso caminho antes do fim.

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

A relação A x E


Economias normalmente definem seu caminho a partir de eventos enormes e imprevisíveis tais como guerras e outros desastres, mudança de regime político, grandes alterações demográficas e irracionalidades que levam às bolhas econômicas. Para qualquer período de 10 anos considerado, a sorte é o maior driver da economia de uma nação. Mas qual fator simples é o maior indicador para, digamos, uma direção desta nação num cenário de cinqüenta anos? Acredito que seja a relação A x E (Advogados x Engenheiros).

Minha hipótese é que o melhor indicador da saúde e longo prazo de uma economia é o numero de engenheiros que um país produz em relação ao numero de advogados. Um país que esteja criando mais engenheiros do que advogados está com tendência de alta. Um país que esteja caminhando para uma economia carregada de advogados vai acabar parando.

Esta ideia nada mais é do que um jeito palavreado de dizer: “Para um homem que só tem um martelo, tudo parece um prego”. Engenheiros constroem coisas e advogados processam pessoas. Se considerarmos que ambas as profissões estejam ocupadas o tempo todo, você precisa de mais engenheiros do que advogados para criar crescimento líquido. E acho que podemos concordar que países com os melhores engenheiros também vencem guerras e sobrevivem melhor a desastres.

Eu tentei googlar alguma estatística pra embasar minha hipótese e falhei. Anedotalmente, a ideia parece certa. Não consigo lembrar de um país com economia forte que não seja conhecido pelo seu pool de engenheiros.

Alguém pode argumentar que educação em geral é o maior fator de sucesso. Mas acho que podemos concordar que se todos se formarem em Letras, estaremos fadados a morrer de fome com uma gramática impecável.