segunda-feira, 4 de maio de 2015

A covardia de um governante


Imagine um país democrático, de governo civil, de um partido que diz ser dos trabalhadores. É de se esperar que esse governo aproveite qualquer oportunidade para se comunicar com sua nação, especialmente no dia em que se comemora justamente o trabalho. É de se esperar, mas nesse país as coisas nunca são como esperamos...

Esse país passou recentemente por um processo eleitoral dos mais competitivos que se tem notícia, além de ter sido também dos mais sujos. Aterrorizando seus eleitores que a vitória do adversário decretaria o fim de benefícios, bem como a subserviência a políticas econômicas de mercado, esse partido que se diz dos trabalhadores conseguiu vencer a eleição, mas nem bem terminou seu mandato passou a adotar as mesmas políticas que execrou no discurso de seu concorrente. Um governo eleito legalmente pela maioria dos votos, mas cuja legitimidade podemos contestar, tamanha a diferença entre o discurso e seus atos.

Esse governo, nem completos 100 dias de mandato, vê as ruas tomadas por mais de 1 milhão de pessoas insatisfeitas com a condução do país e como resposta, num outro episódio lamentável de sua história, aparece em público para dizer que eram apenas pessoas que não votaram nele. A governante desse país faz depois um discurso, mas os cidadãos cansados de suas frases prontas vão às janelas de suas residências e iniciam um outro protesto, desta vez na forma de um panelaço.

As pesquisas de opinião indicam que esse governo, além de toda a classe política e de todos os partidos desta nação gozam nada mais nada menos, de uma rejeição superior a 60%! Aliás, esse país possui mais partidos políticos do que ideologias políticas. Todo mundo se diz de centro, alguns mais rebeldes se dizem de esquerda, mas ninguém tem coragem de dizer que é de direita. Assumir ser de direita é um pedido para ser linchado, ser rotulado como defensor da ditadura militar.

A governante desse país, numa amostra de sua covardia, de que seu partido que se diz dos trabalhadores está sim mais preocupado com seu projeto de poder do que com o bem-estar de seu povo, não teve a coragem de aparecer em rede nacional de rádio e televisão no dia 1o de maio para fazer seu pronunciamento do dia do trabalho, escancarando o receio que ela e seu partido tem da crítica que a sociedade poderia fazer, talvez na forma de outro panelaço. Na verdade não medo da crítica em si, mas medo sim de que essa crítica fosse exposta por aquele jornal de abrangência nacional que vai ao ar às 20h na maior rede de televisão desse país. A repercussão de mais um panelaço com certeza acrescentaria alguns pontos de rejeição numa próxima pesquisa.

Essa governante, ao invés de usar os meios de comunicação em massa para fazer seu pronunciamento ao vivo, numa atitude claramente covarde preferiu publicar nas redes sociais um discurso gravado e vazio de ideias, propostas e ações de governo.

É triste a constatação de que esse país, com uma riqueza exuberante, é governado por pessoas que usam a máquina pública para conduzir suas agendas pessoais e de partidos. Não dá nem pra dizer que existe diferença entre esse partido que se diz dos trabalhadores e os outros, pois nenhum apresenta com clareza suas propostas e projetos para o país. Tenho a sensação de que esse país é a Terra do Nunca e parafraseando um tal capitão Nascimento: "Nunca serão"!