quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Sobre ser humano


O ser humano julga-se muito mais importante do que, muito provavelmente, realmente o seja. Uma pergunta me vem a mente sobre nossa condição: somos humanos ou estamos humanos?

O universo que conhecemos existe há uns 14 bilhões de anos, já o planeta que vivemos é bem mais novo; possui apenas 4,5 bilhões de anos. Se pararmos para refletir, esses números estão impressos nos livros de ciências há muito tempo. Estou certo que são os mesmo números no livro de ciências que você usou. Dificilmente estes números foram diferentes nos livros que seus pais utilizaram e vou além, duvido que estes valores eram diferentes nos livros de ciências dos seus avós. Se você já possui descendentes, é muito provável que nos livros deles os valores sejam os mesmos. Então, três ou quatro gerações viveram (ou estão vivendo) neste planeta e ele ainda possui a mesma idade! Qual a sua significância para o planeta, se você só vai ficar por aqui por mais ou menos uns 80 anos?

Mas o homo sapiens é uma espécie única. Será? Nosso universo talvez não seja único. Há mais de 170 bilhões de galáxias neste nosso universo. Uma galáxia, dependendo do seu tamanho, pode possuir mais de 200 bilhões de estrelas (nossa galáxia, a Via Láctea, possui mais de 300 bilhões). Mesmo que somente uma ínfima parte destas estrelas possuam planetas e, uma outra ínfima parte destes planetas possuam condições de sustentar a vida, são bem grandes as probabilidades de existir planetas com espécies similares à nossa, ou até mais evoluídas. Só porque não as encontramos não significa que elas não existam. Parafraseando Carl Sagan: "a ausência da evidência não significa evidência da ausência".

Mesmo diante de tamanha insignificância, ainda assim nós, homo sapiens, temos coragem de nos colocarmos como superiores em relação a outros de nossa mesma espécie, e por razões das mais estúpidas possíveis: cor da pele, religião, clube de futebol, conta bancária, cargo e por aí vai.

Não sei qual a sua religião, e sinceramente não me importo, mas me responda: onde você vai enfiar todo dinheiro que tem no banco quando seu tempo neste planeta acabar? Será que os vermes que se alimentarão da sua carne se importarão com a cor de seus olhos? Ou para qual clube de futebol você torce? As cinzas que restarão após seu corpo ser consumido pelas chamas da cremação terão mais valor devido sua posição na empresa?

Talvez haja mais sabedoria no bom livro do que queiramos admitir e, talvez, até as perguntas que acompanham a humanidade há séculos já estejam respondidas: "do pó vieste e ao pó retornarás".

Sendo um fato que nosso tempo neste planeta é finito, então talvez a diferença entre ser humano e estar humano seja o que fazemos de nossas vidas, como contribuímos para tornar este mundo um lugar melhor e como seremos lembrados pelas pessoas que cruzam nosso caminho antes do fim.

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

A relação A x E


Economias normalmente definem seu caminho a partir de eventos enormes e imprevisíveis tais como guerras e outros desastres, mudança de regime político, grandes alterações demográficas e irracionalidades que levam às bolhas econômicas. Para qualquer período de 10 anos considerado, a sorte é o maior driver da economia de uma nação. Mas qual fator simples é o maior indicador para, digamos, uma direção desta nação num cenário de cinqüenta anos? Acredito que seja a relação A x E (Advogados x Engenheiros).

Minha hipótese é que o melhor indicador da saúde e longo prazo de uma economia é o numero de engenheiros que um país produz em relação ao numero de advogados. Um país que esteja criando mais engenheiros do que advogados está com tendência de alta. Um país que esteja caminhando para uma economia carregada de advogados vai acabar parando.

Esta ideia nada mais é do que um jeito palavreado de dizer: “Para um homem que só tem um martelo, tudo parece um prego”. Engenheiros constroem coisas e advogados processam pessoas. Se considerarmos que ambas as profissões estejam ocupadas o tempo todo, você precisa de mais engenheiros do que advogados para criar crescimento líquido. E acho que podemos concordar que países com os melhores engenheiros também vencem guerras e sobrevivem melhor a desastres.

Eu tentei googlar alguma estatística pra embasar minha hipótese e falhei. Anedotalmente, a ideia parece certa. Não consigo lembrar de um país com economia forte que não seja conhecido pelo seu pool de engenheiros.

Alguém pode argumentar que educação em geral é o maior fator de sucesso. Mas acho que podemos concordar que se todos se formarem em Letras, estaremos fadados a morrer de fome com uma gramática impecável.